#SouProfessorCriativo: o spinner, o lúdico e a educação

Gif: Karla Vidal

Em junho apareceu na minha timeline uma postagem da educadora Bruna Sanches que chamou minha atenção. Era a imagem de uma página de atividade de um livro didático com um spinner sobre ela. A imagem era ancorada pelo seguinte texto:

Que tal dinamizar sua aula com o brinquedo do momento? Hoje contamos com a ajuda do hand spinner para controlar o tempo das perguntas e respostas dos alunos. Todos ficaram super empolgados e engajados com a atividade!

Bruna é professora do ensino fundamental I e II no colégio COC Novomundo em Praia Grande, São Paulo e parecia ter usado o brinquedo mais polêmico do momento na sala de aula. Eu tinha que saber mais! Fui lá no perfil dela e comentei pedindo mais informações. Antenada, Bruna prontamente me escreveu um relato de sua experiência que eu vou publicar mais a frente nesse mesmo post. Mas, antes eu queria dizer que esse colégio tá cheio de educadores inovadores! Já falei sobre outro educador que toca projetos excelentes neste post aqui. Bruna também é líder do Grupo de Educadores Google (GEG) em São Vicente, em São Paulo.

Obviamente o post da educadora chamou minha atenção por conta do spinner. O brinquedo havia tomado conta da minha timeline e grande parte das abordagens era negativa. Muitos professores demonizando o dispositivo giratório com argumentos do tipo: concorre comigo, tira a atenção, virou vício. Uma multidão de educadores apoiando a proibição. Sim, virou vício e é justamente por essa razão que sabemos que a proibição talvez não seja a melhor saída. 

O spinner foi criado pela engenheira química Catherine Hettinger para combater ansiedade, ajudar crianças com autismo, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade. Não é minha função e nem sua julgar se o brinquedo funciona para esses fins. Para isso existe pesquisa científica. O que nos cabe é perceber que o dispositivo virou mania e tudo que vira mania precisa ser observado com carinho e cuidado. A questão é que quando algo adentra o ambiente escolar, na maioria das vezes o lugar que ocupa é o de vilão. Tá aí todo o cenário de inserção das tecnologias na educação que não me deixa mentir.

Hand Spinner em ação. Foto: Karla Vidal

O boom do hand spinner aconteceu justamente no período em que as duas crianças da minha vida, meus queridos sobrinhos, estavam com a gente. Um garoto de 4 anos e uma linda menina de 11 anos. Ambos completamente apaixonados pelo brinquedo. O primeiro tem mais unidades do dispositivo do que anos de vida. Ora, se o spinner chama tanta atenção por que não pensar em tê-lo como nosso aliado? Cadê a empatia nessa hora?

Aqui em casa eu criei vários desafios nas brincadeiras das férias usando os vários hand spinners que meus sobrinhos têm. As próprias crianças começaram a identificar as diferenças na velocidade do giro em relação aos diferentes tipos de materiais. Gente! Isso é Física unida a um poderoso estímulo à observação e percepção. É um dos passos necessários para o desenvolvimento da capacidade crítica. Eles quebraram seus hand spinners muitas vezes e aprenderam a consertar cada um deles. E sim, relaxaram ao utilizar o brinquedo, principalmente em situações de tensão. 

Foi exatamente o que a professora Bruna Sanches também percebeu. Ela superou a visão negativa que tinha sobre o brinquedo, lançou mão da empatia para identificar uma forma de incluir na rotina de atividades e, de uma forma lúdica, desenvolveu um jogo simples e divertido que envolveu toda a turma. A seguir reproduzo o relato dela que explica muito melhor sobre essa atividade facilmente reaplicável em qualquer experiência de aprendizagem.

Foto da professora Bruna Sanches

Nesta última semana de aula, preparei aulas mais dinâmicas, que pudessem empolgar os alunos com relação ao aprendizado na sala de aula. No último mês orientei diversas vezes meus alunos para guardarem o brinquedo que levavam para sala de aula, o hand spinner. É um brinquedo bem simples, portátil, que parecem piões, mas são girados a partir de um rolamento central. O formato lembra uma estrela. O mais comum tem três pontas, mas podem ser encontrados com duas pontas, quatro, seis… depende do modelo. Me perguntava inúmeras vezes o porquê deles gostarem tanto de ficar rodando o brinquedo durante a aula, e foi aí que tive a ideia de utilizá-lo como ferramenta de apoio ao aprendizado, assim como aderi o celular para o processo de ensino-aprendizagem. A atividade foi realizada com 35 alunos do 7° ano na disciplina de Ciências no Colégio COC Novomundo, em Praia Grande – SP, para um jogo de perguntas e respostas. Eu lançava a pergunta para um aluno e rodava o spinner. O aluno sorteado tinha que responder ou pedir ajuda à banca de amigos, que foi nomeada como "AMIGOS DE PLANTÃO" até que o brinquedo parasse de rodar. A turma ficou empolgadíssima e disseram que irão estudar muito para as próximas aulas para que não precisem pedir ajuda aos amigos de plantão. Foi uma aula divertida, os alunos estavam alegres e pude desta forma, engajar todos por meio de uma atividade dinâmica, despertando uma vontade enorme de estudar! 
Bruna Sanches. Junho de 2017.

E não foi só a Bruna que se permitiu sair da caixa para ver o dispositivo com bons olhos. Os educadores Marcos Egito e Martha Santos que trabalham com cultura maker e robótica livre, decidiram colocar seus alunos para produzir seus próprios hand spinners a partir de rolamentos de skate, parafusos e impressoras 3D. 

Hand Spinner modelado em impressora 3D por Marcos Egito. Foto: Karla Vidal

As crianças passaram do lugar de consumidoras para o de designers de produto, vivenciando todos os conceitos que envolvem a produção de um dispositivo como aquele. Preciso falar mais? Marcos está junto conosco no ProfLab e somos muito gratos por isso!

A lição que fica disso tudo é: permita-se experimentar. Às vezes aquilo que a gente enxerga como concorrência pode ser um poderoso parceiro que vai nos ajudar a inovar e muitas vezes a resolver problemas.

Educadores mencionados nesse post: 

 

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