Entrevista: Raquel Matsushita apresenta o projeto Letra de Mão
Kit impresso incentiva o hábito da escrita à mão.
por Karla Vidal
Foto: Selma Perez Flora |
Junto com a ilustradora Aline Abreu, Raquel é idealizadora do projeto Letra de Mão, iniciativa que busca incentivar o hábito da escrita à mão, através da produção artística impressa. Talentosa e atenciosa como sempre, a diretora do escritório Entrelinha Design nos concedeu uma breve entrevista sobre o projeto. O resultado do bate-papo digital que envolve temas como excesso tecnológico, reflexão e afetividade você pode ler a seguir.
O que é o projeto Letra de Mão?
Raquel Matsushita: Letra de mão são kits de cartões com temas variados. Cada kit contempla, numa pastinha, 10 cartões e 10 envelopes, com um tema específico, como “pássaros”, “quimonos”, “tipografia” e agora o novo “dia quinze”, que traz, além dos 10 cartões, um miniconto. O projeto nasceu da vontade de valorizar a escrita à mão que reforça uma relação mais pessoal e afetiva entre as pessoas. A tecnologia, apesar de muito bem-vinda, acelera demais a vida. Pensamos que a escrita à mão possui um ritmo mais lento, o que dá margem para aflorar um sentimento por meio das palavras escritas. Os cartões do Letra de mão possuem um desenho colorido na frente e, no verso, são totalmente em branco, para que não haja interferência na escrita. É o oposto daqueles cartões nos quais a frase já vem pronta, impressa. Isso faz toda a diferença, afinal, basta lembrar como é gostoso escrever uma mensagem e o quanto dá prazer receber uma carta escrita à mão.
Qual a motivação para o projeto?
Raquel Matsushita: A motivação para esse projeto é proporcionar uma pausa, tanto para nós (Aline e eu) — ao criarmos um novo tema — quanto para quem adquire o kit. Uma pausa para a reflexão, uma deixa para aflorar um sentimento. O cartão é o meio de transporte dos sentimentos, das palavras.
Quem são os profissionais envolvidos?
Raquel Matsushita: O projeto foi idealizado e produzido em parceria com Aline Abreu, que é autora e ilustradora de livro infantis. Juntas, resolvemos reservar uma parte do nosso tempo de trabalho para realizar esse projeto, que pode nunca ter fim, afinal, de tempos em tempos, pretendemos criar novos temas para desenvolver kits inéditos.
Você acredita que o uso excessivo de computadores e dispositivos móveis tem ameaçado a escrita à mão? Haveria então um risco de extinção dessa modalidade de produção de texto para as novas gerações?
Raquel Matsushita: Não sei se chega a ser tão drástico assim, com risco de extinção. De fato, acho que o uso excessivo de computadores e dispositivos móveis compromete a escrita à mão, à medida que esses dispositivos se tornam cada vez mais acessíveis. E o excesso tecnológico é visível em todos os lugares. Mas, por outro lado, tem muita gente que sente a diferença entre escrever um texto à mão e no computador. Sinto que hoje há uma corrente que luta contra esse excesso tecnológico e busca valorizar a escrita à mão. Isso vale também para o desenho. Curioso que andei reparando nesse movimento de incentivo à escrita manual observando a crescente oferta de cursos de caligrafia. Me parece uma resposta ao mundo virtual, que tomou conta não só da escrita à mão, mas também do contato real. Muitas vezes, um e-mail tenta substituir palavras que teriam muito mais expressividade ao telefone ou pessoalmente.
Há quem afirme que o uso excessivo das tecnologias tem causado problemas ao desenvolvimento da caligrafia. Você acredita que o excesso de digitação tem mesmo prejudicado a caligrafia das pessoas?
Raquel Matsushita: Eu acho que a escrita à mão, assim como tocar um instrumento ou mesmo digitar no teclado do computador, exige prática. Não deixa de ser um trabalho braçal. Sendo assim, sem a prática, a caligrafia fica realmente comprometida.
Em se tratando da questão emocional, na sua opinião, qual seria a diferença na produção de uma mensagem escrita à mão da escrita em um editor de texto eletrônico?
Raquel Matsushita: Numa análise mais crítica, um conjunto recente de pesquisas na área da neurociência mostra que a escrita à mão provoca no córtex pré-frontal — região que tem conexão direta na elaboração e na expressão de ideias — uma atividade mais intensa do que na digitação pelo computador. A escrita à mão transmite emoção. Certa vez, assisti à uma palestra de um artista gráfico japonês chamado Katsumi Komagata. Ele fez uma metáfora entre o livro impresso e o livro digital. O digital é como um mergulho no oceano: o leitor perde sensibilidade porque a água prejudica os sentidos, sendo assim, a escuta, a visão, a fala, o movimento corporal, tudo isso fica limitado. Já o livro impresso é um passeio pela floresta: sentir o vento, o cheiro da natureza, ouvir os passarinhos, tocar nas texturas das árvores, tudo isso, aguça nossa sensibilidade e nos torna mais abertos. Eu faço aqui uma transferência desse conceito para a escrita à mão e a digitação: enquanto uma nos abre para a emoção, a outra nos limita. Afinal, ao digitar no teclado, a letra ignora a pressão dos seus dedos. Já com um lápis, tudo fica diferente.
Basta encomendar diretamente pelo email: letrademao@entrelinha.art.br
Os valores 1 kit = R$ 20,00 + taxa de correio
Taxa de correio para:
• 1 kit = R$ 5,00; • 2 kits = R$ 8,00; • 3 kits = R$ 10,00
Cada kit contém:
• 10 cartões estampados por fora e branco por dentro. São dez estampas diferentes; • dimensões do cartão: 9,5 x 9,5 cm, fechado. Quando aberto, 19 x 9,5 cm; • 10 envelopes brancos de 10 x 10 cm. O kit vem embalado numa caixa muito charmosa.
Faça o seu pedido.
Imagens: divulgação |
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