Precisamos dizer que aprender também é legal e divertido
Professores aprendizes do programa ProfLab no Recife. Foto: Karla Vidal |
Preâmbulo
Ontem lotei a mala do carro com alguns objetos para doação. De tempos em tempos juntamos uma série de coisas da Pipa para doar a uma entidade muito conhecida aqui no Recife, os Trapeiros de Emaús. Eles recebem tudo! Pode ir lá doar e conhecer o projeto que vale a pena. Sempre juntamos muito papel, computadores e periféricos, celulares e outros eletrônicos para doar.
Muito por acaso, o dia que escolhemos para realizar a doação era o mesmo em que acontecia o bazar semanal. Os trapeiros consertam os objetos doados e colocam à venda para a comunidade por preços absurdamente baixos. Isso gera renda para a associação. Até aí estava tudo normal se não fosse o comentário de uma senhora que frequentava o bazar ao nos ver chegar. Ela comentou com a amiga que como o carro era pequeno a doação deveria ser de livros e livros ela não queria. Completou o comentário com um estrondoso "afffff". Aquilo nos deixou um pouco tristes porque só reforça um discurso ao qual estamos forçadamente acostumados: estudar é chato e não tenho interesse nisso, nem se for doação.
Que diferença estamos fazendo mesmo?
Ensino híbrido, mobile learning, cultura maker, coding, design thinking, sala de aula invertida... Eu poderia escrever uma lauda inteira só sobre as metodologias consideradas tendência para a educação do futuro. São múltiplas estratégias que já estão sendo postas em prática, de forma individual ou combinadas, por muitos professores motivados a transformar suas práticas nos quatro cantos do mundo. E, como em qualquer transição de hábitos, há resultados positivos e alguns nem tanto.
Mas esse texto não está sendo escrito para debater ou criticar as práticas uma a uma. Já existem bons profissionais encarregados dessa tarefa na rede. Só para citar alguns eu destaco os educadores do ProfLab, do Instituto Educadigital e do Portal Sala. Aqueles a quem chamo de “professores desbravadores”, dispostos a explorar para aprender e aplicar aquilo que aprendem, em sua maioria, estão atentos a essas novas práticas pedagógicas.
Professores do Centro Acadêmico do Agreste em aula de campo conjunta de Zoologia e Didática com alunos do 2º período em Ciências Biológicas. Na aula que acontece na Praia dos Carneiros, em Tamandaré/PE, os alunos exploram ecossistemas (barreira de corais e manguezal), interagem com o espaço registrando fotos e vídeos (com celular) para depois produzirem videoaulas para maior interação com os conteúdos da zoologia. Os alunos criam roteiros, pegam dicas sobre programas de edição de vídeos, coletam dados e depois vão produzir seus vídeos para expor para uma outra turma de Licenciatura em Ciências Biológicas que terão aula (teórica) sobre Tecnologia e Educação. Fotografia e descrição do professor Paulo André da Silva. |
Está claro que estamos trabalhando para formar professores capazes de revolucionar a educação, desconstruindo o discurso de que estudar é algo chato e muitas vezes até torturante. Ao que parece todos os envolvidos com educação concordam com isso. E sabemos que não é fácil desconstruir um imaginário que vem sendo perpetuado desde o período da palmatória. Se estamos trabalhando para transformar a maneira como os professores ensinam, estamos pensando em garantir a melhor experiência de aprendizagem para os alunos. E é a partir daí que mergulhamos nos aspectos que possam envolver crianças e jovens como a experiência com jogos e games e até mesmo as aulas de programação.
Ora, se estamos trabalhando em prol de uma experiência de aprendizagem prazerosa para os alunos, o que acontece quando quem está no lugar do aluno é o professor? Se estamos cobrando que os professores se mantenham atualizados e engajados com as tendências, estamos deixando claro que existe uma lacuna na formação do professor que precisa ser preenchida com conhecimento. Esse conhecimento já circula pela universidade e em instituições criadas justamente com a finalidade de formar professores, mas ainda é muito raro encontrar iniciativas que trabalhem a experiência de formação do professor da mesma forma como desejamos que seja a educação do futuro: inovadora e criativa.
Foi assim que acreditei que é possível transformar a educação agindo em todas as frentes possíveis, considerando alunos, professores, gestores, pais e todos aqueles que estão envolvidos com a educação, e garanto pra vocês que é muita gente! E eu não acreditava nisso sozinha. Havia mais gente desbravadora disposta a planejar experiências criativas para professores. Nasceu o ProfLab, um programa de experiências de aprendizagem criativa para professores.
Um dos momentos mais divertidos do ProfLab acontece durante a formação sobre Design Thinking quando os professores cursistas são desafiados a pensar e ilustrar juntos uma experiência de aprendizagem criativa usando apenas papel. Foto: Karla Vidal |
O programa ainda é muito jovem e não temos muitas estatísticas para apresentar. Mas temos muitos sorrisos e um bocado de sementes plantadas. No entanto, o que temos já tem nos provado que é possível sim planejar uma educação diferente. E não é preciso mágica, nem super-heróis para fazer a coisa acontecer. Além de nós, já tem muita gente topando fazer e fazendo muito bem feito, até mesmo tocando iniciativas independentes como a nossa. Um bom exemplo é o Curiouser: Lab de Criatividade para Educadores projeto lindo de formação de educadores tocado pela Leila Ribeiro.
Em Brasília a formação liderada por Leila Ribeiro foi além dos muros e colocou as professoras cursistas para remar em equipes. A ação fez parte do seu projeto intitulado Curiouser: Lab de Criatividade para Educadores. Foto: Max Rocha |
Precisamos apenas conhecer e dialogar com todos os envolvidos no processo de aprendizagem. É essa abertura que nos permite enxergar as lacunas e tentar preenchê-las da melhor forma possível. Afinal, não dá pra cobrar uma educação menos chata, se quando vamos formar os nossos professores escolhemos as metodologias que tanto criticamos.
Para quem desejar saber um pouco mais sobre o ProfLab o link é esse aqui: http://www.souproflab.com.br/
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