Livro infantil sobre inclusão e linguagem

Ilustração de Laura Zanon (@udiariodebordo)

A cada ano que passa a gente aprende um pouco mais sobre o cenário editorial brasileiro. 

O melhor é que a gente aprende fazendo, errando e acertando e reaprende publicando. Nesse processo de aprendizagem, seguimos firmes no propósito de estimular a produção de livros, o surgimento de novos autores, a alegria do primeiro livro e a leitura ao longo da vida.

Ler faz bem. Queremos que o brasileiro leia mais e para isso a gente se rebola igual a Anitta, tentando dialogar com todos os envolvidos nos processos que fazem um livro chegar até a prateleira de uma livraria ou até a sua casa. Não é fácil. A gente leva um monte de nãos, mas aquele sim que chega sempre nos faz avançar mais um pouquinho e seguir trabalhando.

Publicar no Brasil é complicado e é caro. Os livros digitais ajudaram muito a chacoalhar a cena editorial e permitiram que não nos transformássemos num país onde só lê quem tem muito dinheiro. Livros digitais gratuitos começaram a pipocar e sua produção passou a ser estimulada. Ponto bastante positivo para o digital, mesmo sabendo que o acesso à Internet não é simples.

No entanto, o estilo de leitura dos consumidores não mudou tanto assim. Os livros impressos não deixaram de ser desejados. E quem publica, precisa sempre considerar os dois formatos porque sempre há leitores para os dois e cada um atende a uma necessidade específica.

 

 

Numa matemática simples, livros impressos envolvem um esquema bem mais complexo e muito mais caro que os digitais. Como se não bastassem os custos de edição, design, distribuição e divulgação, num livro impresso ainda é preciso calcular o preço do papel, da tinta e do transporte pra que o livro tenha qualidade suficiente, mas não chegue a você custando muito caro.

Essas contas são difíceis de administrar. Mas, em meio a tudo isso, a gente segue firme aqui com nosso selo editorial que todos os anos publica novas obras e que não parou de publicar nem durante a pandemia. Aliás, a pandemia nos fez reavaliar alguns processos e em 2022 muita coisa mudou e vai continuar mudando. Aos poucos prometemos contar todas essas mudanças pra você em doses homeopáticas para não sobrecarregar.

Foi nesse período de mudanças que chegou por aqui um projeto de livro infantil sobre língua de fronteira que fez nossos olhos brilharem já na primeira olhada. Ainda não havíamos publicado nenhum livro infantil e, além dessa oportunidade, era um projeto nascido dentro da universidade e disposto a pular o muro para ganhar o mundo. Sintonia total com o que gostamos de fazer.

Foi nesse contexto que a gente disse sim e a partir daí uma parceria incrível nasceu até que o livro "A língua de todos e a língua de cada um" estivesse pronto para estar disponível na Amazon e também para ultrapassar mais algumas fronteiras e ganhar o mundo.

A história de Nina

Quem fez o primeiro contato conosco foi a professora Jorgelina Talei da Universidad Federal de Integración Latinoamericana (UNILA). A ideia era publicar um livro infantil em portunhol, ou seja, escrito a partir da fusão linguística entre o português e o espanhol.

Esse ponto específico já chamou nossa atenção porque aborda uma questão bem específica dentro dos estudos linguísticos, as línguas de fronteira. Tanto a Jorgelina Talei como a Renata Oliveira pesquisam sobre as línguas de fronteira, mais precisamente o portunhol. Que interessante, não é? Paramos para pensar no tamanho da fronteira do Brasil com outros países da América Latina e o tanto de crianças que um livro infantil como esse pode alcançar.

 

Croquis da Laura Zanon (@udiariodebordo)

"A língua de todos e a língua de cada um" chegou quase pronto, com ilustrações incríveis da Laura Zanon, a terceira autora da obra. Sim, as ilustrações dão vida à narrativa tanto quanto o texto que apresenta de forma encantadora os sentimentos de uma criança que fala uma língua diferente da que é ensinada na escola. Uma história sobre angústias e sobre possíveis soluções para que a criança não se sinta só.

A personagem é inspirada na história de Jorgelina que nasceu na Argentina e conviveu com experiências muito próximas das narradas no livro. Ela chegou aqui na Pipa ainda sem nome e logo trabalhamos para montar uma enquete no Instagram para escolher. Entre 96 votos, Nina foi o nome mais citado pelos seguidores.

 

 

Após alguns meses de trabalho chegamos a soluções para tornar a impressão viável e também para disponibilizar a obra em formato digital na Amazon. Rodamos uma primeira tiragem de teste com 100 exemplares que acabaram no primeiro lançamento presencial com participação das autoras. Esse lançamento foi organizado pelo setor de cultura da Prefeitura de Foz do Iguaçu e contou com a participação de crianças que ficaram encantadas com a possibilidade de conversar com as autoras. 

 


A protagonista Nina até ganhou sua versão amigurumi (boneca feita de crochê) que também fez muito sucesso entre os pequenos.

Depois desse sucesso que surpreendeu a todos nós, decidimos produzir nova tiragem, dessa vez com 1000 exemplares porque o livro nos mostrou o quanto esse tipo de discussão é necessária.

Possibilidades em sala de aula

Além de nos surpreender com o desejo de leitura das crianças "A língua de todos e a língua de cada um" nos rendeu mais um aprendizado: sua capacidade de entrar nas salas de aula e servir como apoio para os professores da educação infantil.

Aos poucos fomos recebendo mensagens e fotografias de professores que decidiram trabalhar a obra com seus alunos. Destaco aqui o comentário do professor Rogério Back que trabalhou com a versão digital: 

"Trabalhei a versão digital do livro na disciplina de língua espanhola com alunos indígenas em sua educação escolar. A partir desse rico livro discutimos temas variados, como pertencimento, identidade, cultura e, principalmente, a valorização linguística. Posso afirmar que foram ricas reflexões. Parabéns às autoras e à ilustradora. Já vou providenciar a versão impressa."

Recebemos também uma mensagem da professora Angela Paiva Dionísio, autora e conselheira da Pipa, uma das grandes referências da área de Linguística no Brasil: 

"Sensibilidade, respeito e conhecimento. Leitura para todos! Bom material para se discutir nas aulas de linguística, sociolinguística, ensino de línguas e, principalmente, para uma leitura reflexiva em família. Fica a dica! Já vou inserir no planejamento de um curso sobre texto e gênero, pois a ilustração, o projeto gráfico também estão fascinantes!"

 Reunimos tudo que chegou no material a seguir

Estava claro pra gente o potencial que a obra tem não só de encantar as crianças como também de apoiar as práticas pedagógicas e fomentar a reflexão da Educação Infantil até à Universidade. Esse é um mérito que nos enche de orgulho, até porque estamos falando sobre o primeiro livro infantil da Pipa que não poderia deixar de surgir a partir da conexão entre a pesquisa e a educação básica. Aproveito a oportunidade para agradecer às autoras pela confiança na parceira com a Pipa.

Já estamos pensando e trabalhando nas múltiplas possibilidades de aplicação de "A língua de todos e a língua de cada um" em sala de aula. Em breve novos materiais deverão surgir a partir da obra. Aguardem! 

E se você é professor e trabalhou com a obra, registre e compartilhe suas impressões com a gente! Estamos colecionando essas experiências para uma possível publicação num futuro bem próximo.

Dica da Pipa: professores que desejam trabalhar com o livro em sala de aula podem projetar a edição digital a partir do aplicativo Kindle para desktop e realizar tanto atividades de reflexão como de leitura coletiva. A projeção vai ficar como na tela a seguir:

 

Clique aqui para baixar o app gratuito do Kindle para o seu dispositivo

Onde comprar

"A língua de todos e a língua de cada um" está disponível em versão impressa e digital para aquisição na Amazon Brasil. No website da Livraria Loyola você também encontra a versão impressa para aquisição direta com a nossa parceira de distribuição.

Edição impressa

 Edição Digital: 

Comentários

  1. Maria Rita09:35

    Excelente material para a sala de aula! Sou professora de espanhol e debati com meus estudantes sobre diversidade linguística e emoções. Usei em diversas turmas e idades.

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    1. Que ótima notícia, Maria Rita. Estamos recebendo mensagens de professores e professoras usando em suas aulas e isso nos deixa muito contentes. Queria muito ver a sua aula e acompanhar a reação dos seus alunos. Quem sabe um dia? Obrigada pela feedback. As autoras vão adorar saber também!

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