Adultérios Biombos e Demônios em destaque no Jornal do Commércio

Design Editorial da Pipa Comunicação em destaque no Jornal do Commércio.
Leia abaixo a matéria de Schneider Carpeggiani na íntegra.


»TEORIA LITERÁRIA
Em busca do texto que questiona o leitor
Publicado em 09.12.2009

Anco Márcio Tenório Vieira lança amanhã livro de ensaios em que aponta sua visão do que é literatura. O novo livro do professor faz parte do lançamento coletivo realizado pelo PPGL

Schneider Carpeggiani
carpeggiani@gmail.com

A coleção de ensaios Adultérios, biombos e demônios, do professor do departamento de letras da UFPE, Anco Márcio Tenório Vieira, tem início com longo artigo sobre uma dúvida: marido encontra a mulher, digamos, muito próxima do melhor amigo. A cena está presente no romance Alves & Cia., de Eça de Queiroz: “(...) Diante duma mesinha onde havia uma garrafa de vinho do Porto, Lulu, de robe de chambre branca, encostava-se, abandonada, sobre o ombro dum homem que lhe passava o braço pela cintura, contemplando-lhe o perfil com o olhar afogado em languidez. O homem era o Machado”. O encontro coloca o marido num estado de torpor irremediável. Pior do que o flagra é a dúvida, o “e se”.

O ensaio que Anco Márcio desenvolve sobre essa dúvida diz muito sobre o papel da grande literatura – questionar muito e responder pouco. “A literatura suscita mais dúvidas do que certezas, a obra se abre para várias interpretações. É essa uma das diferenças entre a arte e a publicidade ou a novela das oito. Estas apelam para a univocidade interpretativa, enquanto a arte (se arte for) é uma linguagem carregada de significados, como dizia Ezra Pound”, explica o autor, que autografa Adultérios, biombos e demônios amanhã, às 19h, no Instituto Cultural Banco Real, no Bairro do Recife.
E como estamos falando em dúvidas e adultérios em Eça de Queiroz, o que separaria ou aproximaria esse texto da célebre questão que Machado de Assis nos colocou em Dom Casmurro, Capitu é culpada ou inocente? “O texto de Eça é um pouco menos sutil do que o de Machado de Assis. No caso de Machado, o que está em questão é a credibilidade ou não do narrador. A própria construção da narrativa não nos fornece dados para afirmarmos se houve ou não traição. No caso de Eça, o que temos é um marido que flagra, em situação de muita intimidade, a sua mulher com o seu sócio na sala de sua casa, mas que por conveniência, ou por uma certa ingenuidade, vai se deixando levar pelas interpretações que vão sendo dadas pelos amigos sobre se houvera ou não um caso de adultério. O que é comum em ambos os textos é que o leitor quando pensa que a obra vai se encaminhar para um determinado desfecho, ele quebra sua expectativa”.

O desejo de encontrar um texto que quebre as expectativas do leitor diz muito do que Anco Márcio entende por literatura – “O texto construído sempre com um tom de ironia e de riso no canto da boca”, ressalta. O que ele não entende por literatura são discussões de “reserva de mercado”, como aquela que questiona a existência de uma literatura feminina – tópico discutido num dos principais ensaios do novo livro.

“Na verdade, essa discussão (literatura tem ou não sexo?) revela uma doença infantil que sempre perseguiu, desde o século 19, as ciências sociais e humanas: o de confundir discurso ideológico com ciência. O que eu quero dizer é que não existe nenhuma metodologia que me leve a pegar um dado texto anônimo e dizer que ele foi escrito por um homem ou por uma mulher, por um heterossexual ou por um gay, por um branco ou por um negro etc. Logo, na ausência dessa ferramenta minimamente objetiva, vale o grito e o discurso dos grupos organizados. Claro que nada é de graça: por trás de toda essa discussão existe uma luta por tentar obter financiamento de agências fomentadoras de pesquisa, uma luta política por mais espaço e visibilidade, e, não raras vezes, uma forma encontrada pelos picaretas para se resguardarem das críticas”, aponta.

Os textos reunidos em Adultérios, biombos e demônios trazem artigos dispersos do autor, alguns inéditos, outros já publicados em fontes como revistas acadêmicas, Continente e o Pernambuco, suplemento cultural do Diário Oficial. “O livro, na verdade, revela um pouco da minha desregrada curiosidade sobre o mundo, em particular, sobre as linguagens artísticas”, explica.

O livro de Anco Márcio faz parte do lançamento coletivo que o Programa em Pós-Graduação em Letras da UFPE realiza amanhã. Serão autografados ainda: Investigações: linguística e teoria literária, A interação em narrativas conversacionais, de Angela Paiva Dionisio, Afro-América: diálogos literários na diáspora negra das Américas, de Roland Valter, Réquiem à infância: um estudo sobre Um sábado em 30 e Viva o cordão encarnado, de Luis Marinho, de Igor Almeida Silva, Teoria do efeito estético e teoria histórico-cultural: o leitor com interface, de Carmen Sevilla Gonçalves dos Santos.

» Lançamento coletivo do PPGL: Amanhã, às 19h, no Instituto Cultural Banco Real (Av. Rio Branco, 23, 2º andar, Bairro do Recife)

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